Ministério Público do Paraná reforça legado de René Ariel Dotti

O icônico advogado faleceu hoje de manhã na Capital

O Ministério Público do Paraná, por meio do procurador-geral de Justiça, Gilberto Giacoia, prestou homenagem a René Ariel Dotti (foto), que faleceu na manhã desta quinta-feira, da 11 , em Curitiba.

Em mensagem, Giacoia destaca a trajetória e o legado do trabalho desenvolvido pelo advogado. “De todas as suas enormes qualidades, a que o Ministério Público do Paraná mais enaltece é o seu compromisso com a liberdade e com a ética, digno dos grandes homens”.

Confira a íntegra da mensagem do procurador-geral de Justiça:

HOMENAGEM A UMA HONRADA HISTÓRIA

O pouco brilho de um céu cinzento da ainda bucólica Curitiba tem sua razão de ser, pois hoje amanheceu  entristecida pela perda do filho dileto que, ainda criança, engraçava, com suas brincadeiras, as ruas do então Ahú de Baixo, vindo de digna Família Curitibana, protagonizada por Gabriel Dotti e Adelina Zulian.

Pois bem, aquele menino, tão bem cuidado pela atmosfera familiar de sólidos valores morais, com rara inteligência e fina sensibilidade, viria a projetar-se como um dos mais destacados juristas da Terra das Araucárias, honrando as melhores tradições da beca advocatícia e da cátedra acadêmica.

Despede-se o emérito Professor RENÊ ARIEL DOTTI. Para além de seu tão pródigo legado no exercício da tribuna forense, fica o exemplo do homem dotado de incomparável cultura, trazendo o conhecimento pautado pelos princípios morais que recebeu no seio familiar, amálgama de uma bela formação que foi, aos poucos, moldando seu destacado caminho. Idealista e humanista, valeu-se dos substratos éticos que trazia em sua bagagem para semear boas sementes pelos jardins da vida, colhendo flores coloridas e perfumadas nos muitos atendimentos que prestou, nas muitas felicidades que causou, nas diferentes dimensões de justiça que protagonizou da elevada trincheira que tão dignamente ocupou.

Ao bom semeador, a boa colheita.

A convivência com as saias de Themis e a opção muito mais pela balança que pelo martelo ou pela espada fez, ao longo do tempo em que passeou pelo caminhar profissional, por exalar o perfume dos canteiros que foi plantando e cultivando. Seu lastro diuturno haurido por décadas de combativo sacerdócio jurídico, produziu um legado extraordinário que honra as instituições do sistema de justiça, por isso mesmo agora a homenageá-lo.

Soube lograr incomum prestígio e simpatia no meio jurídico, sendo depositário de sentimentos de amizades verdadeiras, destinatário de nossas mais caras afeições. Sua passagem foi, pois, de muita luz e, por isso mesmo, agora já está a irradiar esse seu legado no reino da bondade, da justiça e da verdade junto de Deus. De todas as suas enormes qualidades, a que o Ministério Público do Paraná mais enaltece é o seu compromisso com a liberdade e com a ética, digno dos grandes homens que, mesmo em momentos toldados de nuvens no horizonte nacional, quando nos sacudiam as truculências vindas das sombras do telhado ditatorial que nos encobriam, soube preservar a coragem dos bravos, como lembrou em entrevista que passa a fazer parte do acervo de sua memória, ressaindo-se este notável trecho: “Eu tinha uma formação jurídica. Tinha me dedicado nos últimos anos à atividade de professor de Direito Penal, portanto um tipo de convivência com o sofrimento humano, do ponto de vista da visita aos cárceres e da defesa de acusados. Passei a defender os acusados políticos que eram meus amigos, meus companheiros de redação, meus alunos e também meus professores. A mudança foi, de certa maneira, grande, do ponto de vista dos estereótipos, que se modificavam. Agora, o autor não era mais o acusado de um crime de homicídio, de um crime de estelionato, mas sim o acusado de um crime contra a segurança nacional, que era algo imaginário, do ponto de vista do governo, do poder militar que se instaurou no país. E isso provocou em mim uma resistência intelectual muito grande. Não provocou o temor, porque eu não me divorciei nunca das atividades de advogado…!” .

Por ter nascido tão próximo, cerca de 200 metros, do local onde o Papa João Paulo II celebrou missa no bosque que hoje leva seu nome, calha aqui o texto poético Dele, agora já na condição eclesiástica de santo, para aplacar um pouco a dor do momento e o pesar do desenlace neste plano: “A vocação do cristão é a santidade, em todo momento da vida. Na primavera da juventude, na plenitude do verão da idade madura, e depois também no outono e no inverno da velhice, e por último, na hora da morte.” Como próprio para uma homenagem, como em outra ocasião se anotou, que não quer se fazer despedida, ainda bem que Deus existe para aplacar a saudade.

 

 

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